
Um projeto da iniciativa privada planeja ligar Porto Alegre às cidades de Gramado e Canela, na Serra Gaúcha, por uma linha de trem de passageiros. A construção do novo ramal recebeu um parecer favorável emitido pela Procuradoria-Geral do Estado, e entre os próximos passos está a avaliação do traçado e de outros aspectos técnicos e operacionais.
A expectativa da SulTrens, empresa responsável pelo projeto, é que a linha comece a operar em 2032. Segundo os estudos iniciais, a distância de 84 quilômetros entre a capital e Gramado – a cidade turística mais visitada do estado – será vencida em uma hora. Para tanto, o novo trem com capacidade para transportar 250 passageiros a cada viagem vai sair do terminal do aeroporto Salgado Filho com direção à serra. O ponto final da linha está previsto para a Rodovia das Hortênsias, entre Gramado e Canela.
Três traçados foram estudados, e a opção final foi pelo trajeto mais curto, contornando as cidades de Canoas, Esteio, São Leopoldo, Parobé, Araricá, Nova Hartz e Santa Maria do Herval até chegar ao destino. A princípio, não haverá paradas intermediárias do trem a partir de Porto Alegre. No entanto, de acordo com os idealizadores do projeto, está em estudo a possibilidade de criação de até duas estações no meio do caminho, em condomínios residenciais.

Nova linha de trem vai encurtar ligação de Porto Alegre à Serra Gaúcha
Um dos diretores da SulTrens, Renato Ely, explicou que uma das justificativas para a construção da nova ferrovia – que contará com investimentos estimados em R$ 3 bilhões – é oferecer aos turistas um acesso mais rápido e agradável a Gramado. Não são incomuns os congestionamentos na BR-116, acesso rodoviário entre as duas cidades, pontua Ely.
“Em um dia típico, o turista que chega a Porto Alegre leva cerca de 40 minutos para sair do aeroporto de carro e chegar ao acesso da serra. Depois, a ida a Gramado vai depender do nível de congestionamento. É um trajeto que é feito em duas, três, até quatro horas. Com o trem esse mesmo turista vai aproveitar o visual da Serra Gaúcha e chegar, sem estresse, em uma hora ao seu destino”, comentou.
O projeto prevê a construção de uma passarela de 700 metros entre o aeroporto e a nova estação ferroviária. O diretor da SulTrens disse que a empresa fez contato com engenheiros especialistas na idealização de parques temáticos dos Estados Unidos para fazer com que os turistas possam “viver uma experiência” antes ainda do embarque.
“Conversei com um desses especialistas, que são chamados de imagineers, por misturarem a engenharia com a imaginação, a criatividade. A atração começa antes de entrar no trem. E uma vez embarcado, esse turista vai contar com comodidades como wi-fi e a degustação de bebidas produzidas na Serra Gaúcha”, disse.

Meta é conquistar 10% dos turistas que chegam à Serra Gaúcha de carro
A grande movimentação de turistas é evidenciada nos números do Observatório do Turismo implantado pela prefeitura de Gramado. O boletim mais recente mostra que mais de 6,5 milhões de turistas visitaram a cidade no último ano. O número é 18% menor do que o registrado em 2023 (mais de 8 milhões), impactado pelas cheias que devastaram o estado no mês de maio e tiveram reflexo nos meses seguintes.
Gramado recebeu nos últimos seis anos uma média de mais de 2 milhões de turistas que chegam à cidade de carro. O recorde do período ocorreu em 2023, quando mais de 3 milhões de pessoas subiram a serra em veículos particulares de passeio. Para que o novo trem seja viável, explicou Ely, a meta é conquistar 10% deste público.
“Nossos estudos de viabilidade mostram que esse é um número possível de ser alcançado. Como diferenciais, o trem até Gramado e Canela vai oferecer um nível de conforto completamente diferente. E, acima de tudo, a segurança de se evitar uma rodovia como a BR-116. Eu posso ser um motorista cuidadoso, mas por melhor que eu seja não consigo controlar os outros. A estrada conta com um risco permanente”, ponderou.
A linha deve operar com horários adequados ao fluxo de passageiros. Inicialmente, o projeto estima que poderão ser ofertadas viagens a cada hora entre as 7h e as 9h. A partir das 10h e até às 22h, as partidas em ambos os lados da linha seriam feitas a cada meia hora. A velocidade máxima da composição pode chegar a 135 km/h.

Transposição da serra é desafio do projeto do novo trem para Gramado
Com uma previsão de assinatura do termo de autorização para a construção da ferrovia ainda em 2025, a SulTrens terá um prazo de 10 anos para concluir a obra. Nas contas do diretor, o cronograma é mais enxuto. “Tenho os dados prontos aqui, e vamos fazer o possível para estar operando no final do sétimo ano de contrato”, disse.
Assim como em outros projetos que têm como objetivo abrir vias de transporte em meio a áreas de mata, o trem entre Porto Alegre e Gramado demanda autorizações ambientais. Esta etapa será cumprida com a apresentação de um Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima). Somente após a aprovação destes documentos é que a obra terá início.
Mesmo antes de as primeiras máquinas e trabalhadores assumirem seus postos na obra, o maior desafio da construção da nova ferrovia entre Porto Alegre e Gramado é a transposição do Morro Ferrabraz. Os 800 metros de desnível serão cortados pelo trem por uma extensão de 12 quilômetros de rampa.
“Fizemos uma pesquisa em âmbito mundial e identificamos quatro empresas que têm conhecimento técnico específico para vencer esse obstáculo natural. Fizemos contato com esses construtores, e na hora adequada vamos fazer o processo de definição para escolher qual ou quais deles vão trabalhar nessa obra”, completou Ely.
A reportagem da Gazeta do Povo encaminhou um pedido de entrevista para a Secretaria de Logística e Transportes do Rio Grande do Sul. Em resposta, a pasta enviou uma nota na qual afirma estar “avaliando a viabilidade da ferrovia e os aspectos técnico-operacionais do requerimento da empresa SulTrens”.
Você sabia que Gramado é uma das oito cidades brasileiras que podem nevar no inverno? Fizemos uma matéria contando sobre elas, leia aqui: “Cidades brasileiras que podem nevar no inverno”
